Quando o Catar foi escolhido para sediar as negociações das Nações
Unidas sobre mudanças climáticas, ambientalistas ficaram de cabelos em
pé. As negociações já estavam problemáticas, com poucos resultados na
última conferência realizada na África do Sul em 2011. No entanto, agora
as discussões de alto nível vão acontecer em um dos membros da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que mostrou
pouco interesse nas mudanças climáticas e ainda por cima destacou um
ex-ministro do petróleo para liderar as negociações que começam nesta
segunda (26).
“Organizações não governamentais estão com uma mistura de sentimentos
sobre isso”, disse Wael Hmaidan, ativista libanês e diretor da Climate
Action Ntwork. “Alguns estão muito preocupados e acham isso um sinal de
que o Catar não está comprometido com as negociações climáticas. Outras
pessoas acreditam que é uma oportunidade de ter um debate mais elevado
sobre clima na agenda política da região”, disse.
Ativistas também reclamam que o Catar tem demonstrado pouca liderança
e sendo pouco transparente que os países sede das conferencias
anteriores. Uma das organizações não governamentais que está fazendo
mais barulho é a Avaaz, que afirma: “Ter um dos lideres da OPEP
encarregados nas discussões climáticas é como pedir ao Drácula para
tomar conta do banco de sangue”. Eles também estão criticando a
liderança do Catar por também aceitarem uma grande conferência sobre
petróleo no mesmo ano que sediam a conferência do clima.
Publicamente, delegados têm evitado fazer críticas. Os dirigentes das
Nações Unidas na Conferência do Clima afiram que as preparações estão
encaminhadas. “Eu não estou preocupada”, disse Christiana Figueres,
secretária executiva da Convenção das Nações Unidas para Mudança
Climática. “Estamos muito agradecidos por Catar não só ter se oferecido,
como literalmente ter brigado pela oportunidade e privilégio de sediar a
conferência”, disse.
Sediar a conferência é parte da campanha do país de se projetar como
uma potência, após ganhar a disputa para abrigar a Copa do Mundo de 2022
e coibir revoltas na Síria e na Líbia.
A conferência também pode dar à família real do país a oportunidade
de mudar a percepção mundial sobre a região, que no passado estava
preocupada apenas com a proteção de suas vastas reservas de petróleo.
Aparentemente, o Catar e seus vizinhos do Golfo Pérsico acreditam que
este quadro é antiquado. Os Emirados Árabes Unidos apoiou a extensão do
Protocolo de Kyoto, que põe metas para redução das emissões de gases
causadores do efeito estufa em países industrializados. Eles também
foram os primeiros entre os países do Golfo a assinar o acordo de
Copenhague em 2009.
Até mesmo a Arábia Saudita, que no passado liderou a oposição sobre
as negociações sobre mudança climática para proteger sua produção
petrolífera, passou a agitar a equipe de negociadores.
“Eu descrevo o Catar com o epicentro das mudanças climáticas. Não há
água, nem comida. É um deserto estéril”, disse Fahad Bin Mohammed
al-Attiya, diretor do comitê que organiza a COP18 em Doha. “Qualquer
problema na estação da colheita ou produtividade fora do Golfo vai
impactar diretamente no nosso acesso a a comida e com poços globais
razoáveis”, disse.
Tanto o Catar como os Emirados Árabes Unidos estão trabalhando para a
construção de prédios verdes. Catar afirma que vai ter 20% de sua
matriz energética em energias renováveis até 2024, enquanto a Arábia
Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos anunciaram planos de altos
investimentos em energia solar.
“Nos não queremos continuar sendo vistos como exportadores de barris
de petróleo ou de gás em dutos”, disse o sultão Ahmed al-Jaber,
executivo chefe do escritório de Masdar e enviado especial de energia e
mudanças climáticas dos Emirados Árabes Unidos.
No entanto, ativistas querem ver mais do que conversas na conferência
do clima. A ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson , disse que eles
deveriam assumir metas voluntárias de corte de emissões, como fez o
México, que sediou a conferência em 2010. As emissões totais dos países
do golfo são uma fração das emissões da China e dos Estados Unidos, mas
estipular uma meta acabaria por inspirar outros países a tomar a mesma
atitude.
Ativistas também afirmam que os países do Golfo deveriam fazer mais
para cortar subsídios de combustíveis, que fazem com a gasolina em
muitos países seja mais barata que água engarrafada.
Fonte: Portal iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário