domingo, 2 de janeiro de 2011

Asfaltamento da BR 135 ameaça cavernas em São Desidério

O asfaltamento de uma das principais estradas que ligam o Sudeste ao Nordeste está ameaçando um patrimônio da natureza escondido debaixo do solo.

A BR-135 começa em São Luiz e termina em Belo Horizonte. A obra, incluída no PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, pretende concluir a parte que ainda não tem asfalto.

Mas o traçado da estrada esbarrou numa ameaça de crime ecológico. A obra foi interrompida depois de uma denúncia feita por pesquisadores especialistas em cavernas. Eles descobriram que na região a estrada passa por vários trechos que são ocos por baixo. Numa extensão de 12 km da pista existem 60 pequenas cavernas que formam um grande abismo subterrâneo.

Um dos especialistas em cavernas nos mostra a entrada de um outro abismo, a poucos metros da BR. “Ele vai de 18 a 20 metros na vertical. Na horizontal ele continua, vai a uns 200, 300 metros em direção à estrada. Então, significa que a estrada passa por cima da", contou o espeleólogo Jussyklebson de Souza.

O conjunto de cavernas do Município de São Desidério é considerado um dos mais importantes do país. A maior delas é conhecida como buraco do inferno. “É um ambiente meio suscetível, então, qualquer movimento lá em cima pode danificar toda a estrutura aqui embaixo”, explicou Jussyklebson de Souza.

Na última expedição, os pesquisadores chegaram ao trecho final do buraco do inferno, lugar de acesso muito difícil e que depois de uma chuva foi bloqueado, agora não dá para passar. Mas eles constaram sinais de abalos na caverna. “Blocos caindo do teto, se soltando do teto, caindo no chão”, afirmou o espeleólogo.

A expedição foi comandada pelo coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas. "Em toda a caverna, a gente não vê desmoronamento recente, somente onde a estrada intercepta”, explica Jocy Cruz, do Centro Nacional de Conservação de Cavernas.

Entre as preciosidades escondidas nas cavernas de São Desidério, está o maior lago subterrâneo do Brasil. Há também um rio que corre entre as galerias, forma uma espécie de sifão natural. Um compartimento de repente fica cheio de água. Logo em seguida, esvazia na mesma velocidade. “Parou de subir, agora ela vai começar a descer. A cada cinco minutos ela sobe e desce um metro”, mostrou Jussyklebson de Souza.

Na avaliação dos pesquisadores, se a estrada não for desviada da região das cavernas, essa raridade pode estar com os dias contados. O diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes, o Dnit, diz que o Ibama autorizou a construção da estrada. "Uma vez que nós obtivemos as anuências e também o licenciamento, nós iniciamos a obra”, declarou o diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot.

O Ibama confirma o licenciamento, mas depois da denúncia embargou a obra. "Desautorizamos qualquer obra em todo o trecho da BR 135 e mandamos uma equipe técnica para uma vistoria”, explicou Gisela Forattini, diretora de licenciamento ambiental do Ibama.

A vistoria do Ibama ainda não foi concluída. As cavernas são importantes, entre mil motivos, porque elas ajudam inclusive a contar a história da humanidade, a contar a história do planeta, do mundo.

Fonte: G1.com

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