Os problemas ambientais causados pelo plástico têm sido fortemente debatidos por especialistas e consumidores em todo o mundo. Mas para o ativista Van Jones, uma vertente desse problema não recebe a atenção devida: os danos sociais causados pelo material, especialmente aos mais pobres.
De acordo com Jones, as consequências negativas do plástico se fazem presentes em todas as etapas - desde a produção até o descarte final.
O ativista lembra que muitas pessoas se revoltaram quando o vazamento da British Petrol liberou milhões de barris de óleo do Golfo do México, danificando gravemente o ecossistema local, mas ressalta que o problema poderia ser outro.
"O que as pessoas não pensam é: e se óleo tivesse chegado de maneira segura à costa? E se o óleo tivesse chegado onde estava tentando chegar?", questiona.
Para ele, o material não somente teria sido queimado nos motores e contribuído para o aquecimento global como também aumentaria os danos em um lugar chamado "corredor do câncer" - região da indústria petroquímica localizada no Golfo do México onde o óleo é transformado em plástico e, no processo, reduz a expectativa de vida e até leva à morte dos trabalhadores locais.
Não é apenas durante o processo de produção que os mais pobres sofrem as consequências negativas do plástico. Ao contrário das pessoas com renda elevada, essas pessoas não têm muitas opções na hora da compra e não podem escolher um produto com menos toxinas, sendo quase sempre forçadas a comprar o que for mais barato.
O problema, segundo o palestrante, é que esses produtos são, geralmente, os que possuem maior quantidade de substâncias perigosas para a saúde. Assim, essas pessoas também sofrem as consequências nocivas do plástico durante o seu consumo.
Ao final do ciclo de vida, até mesmo o produto plástico que vai para a reciclagem prejudica as camadas sociais mais baixas ao ser enviado para países em desenvolvimento e incinerado, liberando substâncias tóxicas altamente nocivas à saúde humana. Então pessoas pobres que fazem esses produtos em centros petroquímicos como o "corredor do câncer", pessoas pobres que consomem esses produtos sem proporção e pessoas pobres que mesmo no fim do ciclo da reciclagem tem suas vidas encurtadas são largamente prejudicadas pelo nosso vício por descartáveis.
O palestrante lembra também que, apesar de o assunto sensibilizar a sociedade, pouco é feito para reverter a situação. O problema, diz Jones, é que os danos causados pelo plástico não se restringem às classes mais baixas, apesar de essas pessoas serem "atingidas primeiro e pior".
Para reverter a situação, Jones defende que encontremos a origem do problema que, para ele, está na ideia do descartável em si. "Estamos num momento onde o encontro da justiça social e ecologia como ideia nos faz ver que no fim das contas elas são uma coisa só. E é a ideia de que não temos nada descartável. Não temos recursos descartáveis. Não temos espécies descartáveis. Não temos pessoas descartáveis. Não temos um planeta descartável,tudo é precioso."
Segundo Jones, quando nos voltamos para esse entendimento básico vemos surgir novas oportunidades, como a biomimética, "que significa respeitar a sabedoria de todas as espécies e abre as portas para a produção com desperdício e poluição zero", diz Jones.
Ele defende que é possível desfrutar de excelente qualidade e padrão de vida sem castigar o planeta. A ideia de biomimética, de respeitar a sabedoria de todas as espécies, combinada com a ideia de democracia e justiça social de respeitar a sabedoria e o valor de todas as pessoas, nos daria uma sociedade diferente. Teríamos uma economia diferente. E teríamos uma sociedade mais verde.
Fonte: Terra
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