Em pesquisa sobre a qualidade das águas, realizada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), estudiosos confirmam o comprometimento dos rios urbanos e alertam para a possibilidade o produto se tornar raro e escasso. Para evitar que isso aconteça, especialistas garantem: é preciso cuidar e economizar. O alerta vem ao encontro do Dia Mundial da Água, celebrado na próxima terça-feira, criado para chamar a atenção para o cuidado com rios e lagos, cada vez mais degradados por conta da poluição.
O trabalho, intitulado Caminho das Águas em Salvador, traz levantamento sobre o nível da água a partir das bacias hidrográficas e fontes da capital baiana. De acordo com a publicação, o comprometimento está associado, dentre outros fatores, à destruição da vegetação e à ocupação do solo sem a devida regulação.
“A cidade cresceu sem a infraestrutura adequada e sem projeto de saneamento, o que poluiu os mananciais. De 1960 a 2000, a população de Salvador quadruplicou”, afirma o superintendente de Meio Ambiente e Projetos da Embasa, Júlio Mota.
Segundo ele, quando a cidade era menor e menos habitada, fontes mais próximas eram utilizadas para o abastecimento urbano. “Já foram usadas as fontes de Mata Escura e Pituaçu. Esta última, mesmo não tendo capacidade suficiente, fornecia cerca de 220 litros por segundo, o que é pouco diante dos quase nove mil litros por segundos consumidos em Salvador”.
Hoje, 60% da água que abastece a capital e Região Metropolitana (RMS) vêm da Barragem de Pedra do Cavalo, no Rio Paraguaçu, que nasce na Chapada Diamantina. Os 40% restantes vêm dos rios Joanes e Ipitanga, localizados na RMS.
O diretor-geral do Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), Luiz Henrique Pinheiro, concorda com a complicada situação dos mananciais soteropolitanos e reforça que a utilização deles para abastecimento não é indicada. “Particularmente, aqui e na Região Metropolitana, não há uso de rios urbanos, pois não há um rio nobre entre eles. Existe, sim, a necessidade de recuperá-los”.
Exemplos - Pinheiro cita exemplos bem-sucedidos de despoluição de rios em Belo Horizonte (Rio das Velhas) e Curitiba (Rio Barigui), capitais que não dispõem de sistema oceânico de esgotamento. “Como eles não têm o sistema oceânico, tiveram que despoluir, pois esgotos eram despejados nesses locais. Essas cidades incorporaram a necessidade de revitalização e realizaram fortes programas para isso”.
Contudo, para ele, despoluição e sistemas eficientes de saneamento não são suficientes. Deve existir um programa forte de educação ambiental, para que a população também faça a sua parte.
Cuidados simples, que vão desde evitar lavar o carro com a mangueira, até reparar vazamentos e prevenir desperdícios, podem ser tomados por qualquer indivíduo.
O coordenador executivo do Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá), Rogério Mucugê Miranda, acredita que não existe educação para consumo na capital baiana. “Hoje, o problema está nos cuidados que não estamos tendo. As pessoas usam a água de qualquer jeito. Nossa cultura é imediatista, não se pensa a longo prazo”, diz.
Na opinião dele, é preciso ter vontade política para cuidar da água como um bem precioso. “Não se consideram os rios como rios. Eles são chamados de esgotos. Não há preservação”, lamenta.
Fonte: A Tarde
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