Ele afirmou que as pessoas já estão tão condicionadas ao treinamento periódico que nem escutam a sirene.
Nesta quarta-feira, uma audiência pública promovida em conjunto pelas Comissões de Defesa do Meio Ambiente e de Minas e Energia da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), discutiu a segurança das usinas atômicas do Estado. As usinas nucleares brasileiras (Angra 1 e Angra 2, em operação, e Angra 3 em fase de construção) estão instaladas em Angra dos Reis, município do litoral sul fluminense, com uma população de 180 mil pessoas e que duplica no verão com a presença de turistas.
O prefeito da cidade, Tuca Jordão, disse que Angra dos Reis não está preparada para enfrentar um vazamento nuclear. Para ele, a experiência do Japão deve servir de grande reflexão para que acidente semelhante não ocorra no Brasil. “A gente sabe, dito pelos técnicos, que o funcionamento das usinas Angra 1 e 2 é diferente de Fukushima mas, a gente não é entendido no assunto. A gente está muito preocupado e focado na logística e na infraestrutura que a cidade de Angra dos Reis tem”. Disse que as pessoas já estão tão condicionadas ao treinamento periódico, que nem escutam a sirene.
O prefeito sugeriu que a geração nuclear, bem como o funcionamento das usinas atômicas e o plano de evacuação façam parte da grade curricular já a partir de 2012. “Para que as nossas crianças e jovens entendam o que é uma usina nuclear, entendam o que é preciso em um plano de evacuação, aonde eles precisam ir, qual é o ponto de encontro. Isso é muito vago”.
Tuca Jordão é a favor da energia nuclear, mas ressaltou a necessidade de revisão dos procedimentos de segurança, diante do que ocorreu em Fukushima. Ele é contrário a qualquer proposta pela diminuição das atividades da usina. “O que o [Brasil] já gastou desde a ditadura militar até hoje nas usinas Angra 1 e 2 e com os equipamentos parados [para Angra 3] custando US$ 20 milhões por ano para manutenção, é jogar muito dinheiro público fora”, afirmou à Agência Brasil.
A segurança da população, no caso de um acidente radioativo, preocupa o prefeito que defende mais investimentos em infraestrutura na região. “Enquanto a gente não tiver uma estrada decente, um centro de abrigo fora dos raios de 3 e 5 quilômetros das usinas, um hospital, não para tratar de radiação, mas para dar tranquilidade às pessoas e com capacidade para absorver toda essa demanda, [a situação preocupa]”. Tuca Jordão também defende a transformação do aeródromo de Angra dos Reis em um aeroporto. “Por que não aumentar?”, perguntou.
Segundo ele, essas iniciativas não podem ser de responsabilidade da prefeitura. “As usinas são do país”. Lembrou que em 1972, por ocasião do início de construção do complexo nuclear, a população não foi consultada sobre o projeto. “Ela [usina] existe, é uma realidade. Então, a gente tem que ter a preocupação de que o plano de emergência, de evacuação, tem que ser todo revisto”. Observou que em função da tragédia no Japão, todo o mundo está revendo os seus projetos. “E aqui no Brasil, em Angra dos Reis, não pode ser diferente”.
O vice-presidente da Câmara de Vereadores de Angra dos Reis, Antonio Cordeiro, defendeu a energia nuclear como fonte limpa para enfrentar o aquecimento global. Ele representou, na audiência, o Movimento Sim Para Angra 3, em prol da construção da terceira usina nuclear brasileira no município.
Apesar de ser favorável ao programa nuclear, Cordeiro disse à Agência Brasil que diante da tragédia no Japão, os procedimentos de segurança nas usinas de Angra têm que ser revistos. “Tem que ser revistos alguns procedimentos e, principalmente, a questão do plano de emergência”, disse.
Nesta quinta-feira ocorrerá a nova audiência pública na Câmara de Vereadores para tratar da segurança das usinas nucleares. Ele considerou normal que, toda vez que ocorre um acidente com uma usina atômica em qualquer parte do planeta, os procedimentos e projetos sejam revistos, “para melhorar a qualidade deles”.
Fonte: O Estado de São Paulo
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