A produção de etanol e outros biocombustíveis já não é a única forma de usar a cana-de-açúcar para combater o aquecimento.
Cientistas dos Estados Unidos acabam de descobrir uma espécie de "efeito colateral" dessas plantações que ajudaria a resfriar a região onde as culturas se localizam.
Isso aconteceria pela ação conjunta de dois fatores. Os canaviais conseguem refletir com sucesso uma boa parcela da luz solar, o que já ajuda a não acumular calor.
Esse efeito é potencializado por uma espécie de "suor" da planta, que transpira alta quantidade de água retirada do solo de volta ao ambiente, resfriando o ar.
Tudo isso não significa, porém, que se deva sair por aí derrubando árvores e florestas e colocando um monte de cana-de-açúcar no lugar. Os autores da pesquisa, publicada na última edição da revista "Nature Climate Change", alertam que a cana não substitui a boa e velha mata nativa.
Os resultados são benéficos quando comparados a regiões já desmatadas, especialmente para formação de pasto e plantação de soja.
"Em ambientes onde a segurança alimentar não esteja ameaçada, a conversão de lavouras e pastos em canaviais leva a um significativo esfriamento local, enquanto a substituição da vegetação nativa pela plantação de cana provoca um aquecimento local", diz o trabalho, chefiado por Scott Loarie, da Universidade de Stanford.
BRASIL
Embora não haja nenhum brasileiro no grupo, o trabalho foi feito com análise de dados colhidos no cerrado do país --a a maior área de savana da América do Sul.
Os cientistas avaliaram centenas de imagens de satélite de quase 2 milhões de quilômetros quadrados --o suficiente para mapear todo o centro-oeste. Eles também compararam dados como temperatura, taxa de evaporação e de reflexão da luz solar.
Em média, o desmatamento para criação de gado e plantação de soja aumentou em 1,55ºC a temperatura normal do entorno. Quando essas culturas foram substituídas pela cana, a temperatura voltou a cair em média 0,93ºC.
Para o professor da USP de Piracicaba Edgar Beauclair, da área de planejamento da produção e cultivo da cana-de-açúcar, a pesquisa dos americanos demonstra que, quando bem planejada, essa cultura pode ser benéfica para o ambiente.
"Se bem conduzida, a produção de cana pode ser bastante sustentável. Ela pode ser uma boa solução para a manutenção da necessidade de produção de energia em harmonia com o ambiente. Nós temos tecnologia para isso", afirma.
Segundo Beauclair, no entanto, é preciso maior investimento em pesquisa no Brasil, que é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar em todo o mundo.
"O fato de não ter nenhum brasileiro envolvido nesse trabalho já evidencia como está difícil conseguir financiamento para estudos na área de cana-de-açúcar e bioenergia. Para avançarmos, isso tem que mudar", diz.
Fonte: Folha.com
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